Espiritualidade, arte e educação: novos desafios para a formação do arteterapeuta
Resumo
Como trabalhar conceitualmente esta tríade? Qual o melhor caminho a ser percorrido? Busca-se um caminho onde a ciência possa dialogar com a consciência nutrida pela experiência vivencial dessas dimensões. Para tanto, é preciso que, como peregrinos, tenhamos vivenciado em nossa corporeidade todo o caminho, integrado estes três conceitos importantes. Caso contrário, nossas explicações cairão no vazio e se perderão no devir da história, por falta de sentido e significado para a maioria dos leitores deste ensaio.
Ao refletir a respeito desta tríade desafiadora, optamos pela escolha e inclusão de um outro elemento conceitual importante, por uma nova bifurcação do trajeto percorrido. Optamos por incluir um novo atalho que nos permita concretizar novas compreensões e explicações teóricas a respeito do tema proposto. Esta bifurcação passa pela inclusão da criatividade e pelo reconhecimento da transdisciplinaridade intrínseca ao processo criativo, como sendo uma das portas de entrada para compreensão do fenômeno da espiritualidade em sua relação com a criatividade, como manifestação do espírito criador que se materializa através da arte.
Muitas vezes, ao manusear um objeto artístico, ao adentrar em um estado de fluxo criativo em um processo de criação pictórica, imagética ou cênica, somos levados pela intuição, pelo imaginário, pelas emoções e sentimentos que afloram, pelos insights e emergências que se manifestam no ato criativo, como expressão do potencial criador que resulta da materialização de uma obra de arte. Vivenciar essa riqueza fenomenológica da interioridade humana nos momentos de criação artística, dialogar com ela, sintonizar-se com uma realidade espiritual, unir-se à energia cósmica que a tudo unifica, continua sendo uma experiência profundamente enriquecedora, transformadora e, na maioria das vezes, terapêutica. É uma experiência que se torna inesquecível, indescritível e única e que nos transforma interiormente ao nutrir nossa energia vital, tornando-nos seres melhores, mais fortalecidos, magnânimos, generosos, seres transcendentes, que amam a vida e se comprometem com ela.
Para Dittrich (2018), por meio da criatividade na arte, o ser humano toma ciência de sua espiritualidade natural, que expressa sua maneira de ser no mundo, visando encontrar o sentido de seu viver. Assim, optamos por iniciar esta construção teórica incluindo também a criatividade como caminho para se chegar à uma espiritualidade natural, como algo emergente no processo criativo e que se materializa através da arte. A arte é fruto da fruição da criatividade do ser humano, algo que pode e deve ser potencializada pela educação. Trabalhar a criatividade, a espiritualidade, a arte e a educação, a partir da epistemologia da complexidade e da transdisciplinaridade, será o nosso grande desafio neste momento e a utopia, nutrida pela fé e esperança, nos leva a seguir adiante, de maneira confiante e esperançosa. Ela exige um aprofundamento teórico sobre os temas - criatividade, complexidade e transdisciplinaridade, para que possamos compreender a fenomenologia presente em tais processos.